~Sobre coisas estranhas, que não é a receita
A nova série Netflix "Strangers Things" ("Coisas Estranhas", 2016) - que em poucos dias tornou-se um dos assuntos mais comentados da internet e arrebanhou milhões de fãs pelo mundo afora - obviamente também deu margem a muitas teorias do porquê de seu meteórico sucesso.
Para mim, cinéfila assumida, as referências a filmes da década de 80, o universo infanto-juvenil, a música nostálgica, o enredo com direito a sustos e a boa atuação de jovens atores até então desconhecidos (por mim, pelo menos) já teriam sido suficientes. Porém, assisti aos 8 episódios da temporada em dois dias e teria assistido a mais uns 40 sem parar por um motivo um pouco mais pessoal. Não se preocupe em prosseguir lendo, não darei spoiler para quem ainda não assistiu, o motivo desse post é outro.
O meu encantamento com a série, passada em 1983, foi por ter relembrado os hábitos da época comparados com os dos dias atuais. As "coisas estranhas" por assim dizer, na minha avaliação - na época tinha 20 anos de idade e já estava na faculdade - foi perceber que após mais de 30 anos, o que evoluimos em muitos aspectos talvez nunca venha a compensar o que perdemos: os hábitos mais simples, valores selados a olho no olho, comportamentos esquecidos.
No momento que o mundo vive uma overdose de superexposição e informação, comunicar-se com amigos por walk-talks ou telefones (de fio!!!) faz parecer um tempo mais longínquo do que realmente foi . Aliás, os amigos reuniam-se para compartilhar e conversar, não só olhando para as telas de seus smartphones. Brincava-se com jogos de tabuleiro, de bola, de taco. Andava-se de bicicleta nas ruas. Como já disseram, nossos pais não sabiam ONDE estávamos, só sabiam que NÂO estávamos por perto. Não havia o monitoramento de hoje. E sobrevivemos!
Era uma época em que amizades se restringiam a um número conquistado por interação e empatia e não por solicitações enviadas por rede social de "pessoas que talvez você conheça". Tínhamos quantos em nosso círculo? Juntando família, primos da mesma idade, colegas de classe, os da rua em que morávamos, os que faziam esporte conosco e melhores amigos, podia dar quanto, uns 100? Hoje temos mais de 1.000!! Ficamos tão populares, não? Não, não ficamos...
Ficamos egoicos. Desenvolvemos um vício para a autopromoção. Nos alimentamos de "curtidas", de "comentários", de "número de seguidores" que muitas vezes nem existem. Podemos comprá-los aos milhares a preços bem acessíveis. Mas os números inflados passaram a ser o testemunho de como somos populares, legais, descolados, interessantes, como somos "influenciadores", não é assim?
Não nos reunimos mais apenas para estar com alguém que gostamos, temos também que mostrar isso ao mundo. Postamos não mais com os nossos nomes, mas com o tal do @fulanodetal, marcando o @sicrano e o @beltrano. Mudamos do status de pessoa para "perfil". Não somos mais o que somos, somos o que aparentamos e escolhemos a dedo o quanto queremos que os outros pensem de nós. Construímos nossa imagem. Não só nos esforçamos para evoluírmos como seres humanos, o importante é o que parecemos (ou o que julgamos parecer) aos outros. Realmente o mundo virtualizou-se.
Como era interessante fotografar e não ver o resultado na hora. Era gostoso buscar na loja fotocopiadora as revelações em 10 x 15 e surpreender-se com uma foto que você nem lembrava ter tirado. As pessoas apenas posavam, mesmo que não tão naturalmente em alguns casos, mas não se viam previamente na telinha do celular com suas caras e bocas. "Ah, deleta aí e vamos fazer outra", "não saí tão bem", "tudo bem, vou colocar um filtro e boa". Pega mal postar foto que você não está tão divinamente retratado, certo? Nosso registro ficava apenas pela lembrança da ocasião. Era recordação dos bons tempos. Agora, qualquer passeio no parque, treino na academia, ida ao shopping, etc, etc, vira o acontecimento do século. Século não, milênio!
Sei que muitos irão se incomodar com esse texto e talvez até me "excluam" ou "parem de me seguir" por conta disso. Tudo que agora escrevo não é crítica, é constatação. Se houver uma carapuça, então essa serve para mim também. Comparando ao seriado que citei no início, estamos, na minha avaliação, vivendo no sombrio "Mundo Invertido". TODOS NÓS, como zumbis.
Sei que as coisas caminharam como tiveram que ser e os mais novos sequer terão noção do que estou falando e sentindo. Apenas fiquei assistindo aos hábitos de umas poucas décadas atrás em uma obra de ficção e que me causaram uma vontade imensa de resetar o mundo e atualizar as definições para felicidade e bem viver. Só isso...
~Sobre a receita, que não é estranha
Uma outra coisa estranha é até agora não ter feito Cinnamon Rolls (rolinhos de canela) considerando-se dois motivos importantíssimos:
1. adoro tudo que leva canela (coloco até em alguns pratos salgados)
2. sou apaixonada por fazer pães
Aí, bem, joguei a pesquisa no Google (que não havia em 1983..rs) e apareceu essa da querida e talentosa Paula Cinini, autora também do "The Cookie Shop". Bingo, foi essa a eleita.
Das considerações: modifiquei um pouco a receita original e também deu muito certo. Adorei a massa, adotarei para a vida toda em muitas outras versões. Apesar de levar ovos e manteiga (a tal da massa enriquecida) é bem fácil de trabalhar. Recomendo!
Cinnamon Rools
(renderam 12 rolinhos)
receita adaptada DAQUI
Ingredientes
>rolinhos
esponja:
1 tablete (15g) de fermento biológico fresco (para pães) - ou 10g do fermento biológico seco
1/2 xícara (chá) de água em temperatura ambiente (se estiver muito frio, amorne a água de maneira a ficar confortável ao toque do dedo - não pode ser quente)
1/2 xícara (chá) de farinha de trigo
1/4 xícara (chá) de açúcar refinado
massa:
2 e 1/2 xícaras (chá) de farinha de trigo - aproximadamente
75 g de manteiga derretida e esfriada
1 ovo grande
1/2 xícara (chá) de leite em temperatura ambiente
1 colher (chá) de sal
a esponja ativada
>recheio
50 g de manteiga derretida
3/4 xícara (chá) de açúcar refinado
1 e 1/2 colher (sopa) de canela em pó
>cobertura
1 e 1/2 xícara (chá) de açúcar de confeiteiro
1/2 colher (chá) de extrato de baunilha
5 a 6 colheres (sopa) de leite em temperatura ambiente
Preparo
Em uma tigela, dissolva o fermento com o açúcar até virar uma pasta. Misture a farinha de trigo e adicione a água. Mexa até combinar. Deixe em lugar quente e sem vento até que forme uma bolhas na superfície.
Nota: se estiver usando o fermento seco, após misturar aguarde uns 15 minutos para utilizar.
Em outra tigela maior, coloque uma parte da farinha de trigo, o ovo, o leite, a manteiga e a esponja. Mexa com uma colher de pau ou espátula. Acrescente o sal. Vá adicionando o restante da farinha até que a massa não fique tão grudenta.
Enfarinhe a bancada e despeje essa massa sobre ela. Sem adicionar mais farinha, faça a sova por tempo suficiente de maneira que ela não grude mais (é quando ela desenvolve o glúten). Apesar dessa receita ser de massa enriquecida (que leva ovo e manteiga), é bem fácil de trabalhar. Se achar necessário, pode utilizar uma espátula para fazer a sova (mas nem precisa de fato).
Siga o passo a passo das fotos
1. faça uma bola com a massa e coloque-a em uma tigela enfarinhada, deixando crescer em lugar quente e sem vento (dentro do forno desligado é um bom lugar)
2. a massa depois de crescida (dobra de volume)
3. enfarinhe a bancada e abra a massa nela com um rolo até um retângulo de aproximadamente 20 x 40 cm
4. pincele o retângulo com a manteiga derretida
5. salpique com o açúcar misturado com a canela
6. enrole a massa de maneira bem justa e no sentido do maior comprimento
7. corte esse rocambole em 12 pedaços de mesma largura com uma faca afiada e disponha os rolinhos em uma assadeira untada e enfarinhada, deixando um espaço entre eles
Preaqueça o forno a 220 graus Celsius
8. deixe a assadeira sobre o fogão por mais uns 15 minutos para os rolinhos crescerem e enquanto o forno aquece
9. leve para assar na temperatura de 220 graus por 10 minutos. Passado esse tempo, abaixe para 180 graus e mantenha até que os rolinhos adquiram uma tonalidade dourada na superfície
Para a cobertura: adicione colher por colher de leite ao açúcar de confeiteiro até obter uma pasta consistente. Misture o extrato de baunilha
10. aguarde os pãezinhos amornarem e faça a decoração com a cobertura de açúcar
Bom apetite!
Também gostei muito de "Strangers Things", por motivos semelhantes aos seus. Quanto ao pão, você tem uma versão dele sem a adição de leite de vaca e ovos?
ResponderExcluirOlá Teodora, tudo bem?
ExcluirOlha, eu até procurei nas minhas receitas (testadas) e não achei nada que pudesse te atender.
Bem, dá para substituir o leite de vaca por algum leite vegetal (coco, por ex) ou água. Agora, o ovo não saberia como substituir...
Você poderia tirar o ovo, fazer essa experiência. Vai dar certo, pão se resume a basicamente farinha, água e fermento. Não vai ficar igual à essa receita, mas dará certo, digo, vai formar uma massa de pão sim.
Espero ter ajudado. Abraços
No momento que assisti o primeiro episódio adorei a cena dos meninos com tabuleiro e suas bicicletas.É bem como vc disse, vivemos em outro mundo agora, e é uma pena as crianças não curtirem como ' nós" curtimos.Adorei a receita, também adoro canela!Abraços.
ResponderExcluirOi Clau, obrigada pelo seu comentário!
ExcluirAbraços
Oi, Sandra!
ResponderExcluirAinda não vi esta série, fiquei curiosa pra assistir...
Quanto à receita, parece deliciosa!!! Com uma xícara de café...
Abraços, Cris
Oi Cris, obrigada pelo comentário...aproveite um final de semana que possa ficar grudada assistindo...rs a gente não quer parar mais. Abraços
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