De um tempo no qual as informações se propagavam por
outros caminhos e as pessoas mantinham os olhos na altura dos seus horizontes.
Começando esse post com um papo de antigamente. Bem, se
somos o que somos, fui feita adolescente nos meados dos anos 1970. Época de
psicodelismo, de usar tamanco com salto plataforma, bata indiana e bijous
exuberantes. Cabelão, chinelo de dedo e ver o por do sol no mar.
Tenho uma profunda gratidão aos deuses por ter me proporcionado,
na questão cronológica, a fase da rebeldia mor da minha existência – a passagem
da fase criança para o mundo adulto – com um contexto de mundo que também era
de rompimento com padrões gastos e que já não serviam mais. Se tivesse que
conceituar esses anos com uma só palavra, diria que foram efervescentes, tanto
minha adolescência quanto os anos 70.
Ouvia, dos nacionais “O Terço” (quem lembra?) e dos
gringos Steely Dan, Yes, Jethro Tull, The Who, o bruxão dos teclados Rick
Wakeman, algo do som da Motown, até a “tia freak” Alice Cooper e uma bala-dose
de Peter Frampton (ele era bonitinho, vai, toda garota tem lá seu deslize,
assumo).
Encontrava os amigos na praia – morava em Santos, cidade
à beira-mar – e desfrutávamos de uma liberdade de ir e vir que daria inveja à
garotada de hoje. Nada de “mãetorista”, andávamos a pé, de ônibus, de carona. A
violência urbana ainda não nos tinha feito reféns em bunkers também conhecidos
por nossas casas.
Toda semana, meio que ritualisticamente, meu pai chegava
com um pacote do jornaleiro. Nele vinha “O Pasquim”, um semanário alternativo anti-“dita”
no qual eu checava antes de ler suas matérias (como uma espécie de TOC ou
certificado de garantia) se na primeira página constava o “enquanto estiver
esse selo O Pasquim continua sem censura prévia”. Ufa, resistência aos anos de
chumbo, a trupe de jornalistas e chargistas manteve-se livre dos nefastos
censores até uma polêmica entrevista com a atriz Leila Diniz. Ainda no pacote
teve a fase da revista “Recreio”, que eu simplesmente amava e que era feita por
um time invejável de profissionais conceituados. Era de fato uma publicação de extrema
qualidade para crianças e pré-adolescentes.
Já não me recordo se vinha nesse pacote semanal o
exemplar da coleção “Os Bichos”. Também não estou interessada em checar no Mr.
Google esse fato, se as publicações eram da mesma época. Quero somente acessar
os arquivos da minha memória, mesmo que estejam eles um tanto comprometidos
pelos mais de 50 anos de acúmulo de informações. Agora, havia uma revista que
era simplesmente meu delírio e a qual formou parte da minha experiência de
vida: a “Revista POP”.
Essa eu esperava ansiosamente. Falava de bandas de rock,
contava histórias como a do grupo “Novos Baianos” quando chegaram ao sudeste, a
batalha pela sobrevivência, a comunidade que formaram além da parceria na
música. Baby Consuelo, Pepeu Gomes (“você produz toda luz que eu preciso e que
gosto de ver”), Moraes Moreira e outros novinhos, quase meninos!
Tinha foto de menina de praia, não de tutorial de moda,
de gente de verdade, de biquíni bacana que eu tentava copiar o estilo. Matérias
sobre esporte, principalmente surfe, e tantas outras coisas. Saudade!
Apesar de ter comprado todos (ou quase todos) os números
dessa revista, as mudanças de casa da minha família fizeram com que se
perdessem vai saber lá por onde. Nem tive como impedir isso, já morava em São
Paulo para fazer faculdade. Hoje essa coleção seria talvez uma relíquia para
pessoas da minha idade e que também eram fãs. Às vezes penso ser melhor assim,
não olhar com o olhar de hoje, tão bombardeado com tantas informações a um
clique na tela do meu smartfone. Talvez perdesse aquele encanto. Melhor guardar
pra sempre como já está.
Bem, o que essa revista tem a ver com a receita de hoje?
Seguinte: ela veio em algum exemplar da POP. O nome era esse mesmo “Rosquinhas
da Malu”. Vai saber quem era essa tal Malu, uma das jornalistas da revista,
irmã ou namorada do editor, tia do fotógrafo ou um personagem só para
diferenciar uma receita bem fácil e bem gostosa. O mais interessante é que
essas rosquinhas foram parar no caderno de receitas da minha mãe, de tanto que
foram feitas lá em casa. Primeiro foi a fase
para meus irmãos e eu, depois passou para a geração dos meus sobrinhos e minha
filha. Aliás, quando meu sobrinho mais novo era pequeno – e não sabia
pronunciar direito as palavras com R – quando via que minha mãe havia preparado
pra ele, falava: “oba, Vó, loquinhas”.
Receita de uma revista alternativa, descolada (do tempo
que essa gíria ainda não existia), que curiosamente passou a ser tradicional na
minha família. Também, lá se vão mais de 30 anos. A rebeldia se foi em parte e “o
sonho acabou e quem não dormiu de sleeping bag nem sequer sonhou”!
"Rosquinhas da Malu"
(rendem aproximadamente 30 unidades usando cortador
externo de 8 cm e interno de 2 cm)
Ingredientes
>massa
2
ovos grandes
3
xícaras (chá) de farinha de trigo
1
xícara (chá) de açúcar
1
colher (chá) de manteiga em temperatura ambiente
½
colher (chá) de noz moscada (prefira ralar na hora)
5
colheres (sopa) de leite
1
colher (sopa) de fermento em pó químico – para bolos
>para
fritar
óleo
(o quanto necessário)
>para
polvilhar
açúcar
canela
em pó
Preparo
Coloque
todos os ingredientes da massa em um recipiente médio. Misture com as mãos até
dar a liga e formar uma massa. Modele uma bola.
Polvilhe
a superfície de uma bancada com farinha de trigo. Usando um rolo próprio, abra
a massa até a espessura de um pouco mais de meio centímetro. Faça os cortes
usando os aros ou utilize um copo, xícara ou outro utensílio que possa adaptar.
Em
uma frigideira de borda um pouco mais alta, aqueça o óleo, que deve ser em uma
quantidade de mais ou menos uns dois dedos de altura. Cuidadosamente coloque as
rosquinhas para fritar, primeiro de um lado até dourar, depois do outro.
Escorra em papel toalha.
Misture
o açúcar com a canela (o quanto gostar) em um recipiente e passe as rosquinhas
enquanto elas ainda estão quentes, para aderir melhor.
Delicie-se!
Bom apetite!
gosto tanto, sou um perdido por isso que bom aspeto.
ResponderExcluirO Cantinho dos Gulosos
Olá Sandra!!!
ResponderExcluirSou de Santos, legal saber que você já morou por aqui!!
Eu nasci no fim dos anos 70, como tenho dois irmãos mais velhos, cresci ouvindo Alice Cooper, os clássicos da Motown e os outros que você citou...ainda tive a oportunidade de ter uma adolescência tranquila, andando a pé pela cidade, passeios divertidos sem um tostão no bolso e por aí vai...costumamos dizer por aqui que pegamos a última infância boa da cidade! Fiquei realmente feliz em reler seu relato, obrigada por compartilhar!!
Já a receita, sem comentários, fiquei com água na boca!!!
Beijos e linda semana pra ti!
www.deliciasdavodeo.com.br
Hummmm!!!!! Delícia!!!!!! Amo suas receitas!!!!!
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